1.7.13

gabriel

faz quase dez anos.
você nem sabia, mas prometi que iria crescer a ponto de ser suficiente para você.
para te merecer em toda sua intelectualidade, musicalidade, no seu falar engringolado, na sua boemia.
eu ia aprender política, ia respirar poesia, desbravar o mundo, aprender novas línguas, novos sabores.
e quando você finalmente me reencontrasse, eu seria a inspiração das suas poesias etílicas, o motivo das tuas noites insones, seu par perfeito.

passou muito tempo, anos sem nos ver. já não tinha mais a pretensão de tê-lo para mim e até dessa promessa me esqueci.
no entanto, desde então, eu estudei, mudei de cidade, visitei outros países, arrumei alguns empregos.
recentemente, me lembrei da promessa, pensei por dois segundos e achei que se me visse hoje, talvez o gabriel de dez anos atrás me achasse suficiente.

parei mais alguns minutos e percebi que (já é uma e vinte da manhã e daqui a pouco eu deveria acordar para ir trabalhar) apesar de não saber se eu seria suficiente para você hoje, não me sinto suficiente para mim.

a ansiedade me fisgou como um peixe distraído que morde a isca sem fome e me levou o sono embora. um aperto incômodo. uma música triste.
passaram horas enquanto estive pensando onde foi que alguma coisa saiu do controle.
gabriel, onde me perdi?