escrevo linhas e linhas tentando medir por antecipação onde
meus dedos querem chegar. eu dedilharia todas a gotas de orvalho que quisessem
pingar sobre meu rosto em um dia frio de garoa, solfejando sonhos adormecidos.
coloco um cachecol antes de sair e o vento deixa o nariz
gelado. abro a porta e deixo a mercê de sua própria escolha desejar partir.
sigo caminhando devagar. secando algumas lágrimas pelo
caminho nos sopros repentinos de ventania. eu vou ficar por aqui, por enquanto.
não existem raízes que me prendam, então decidi ficar.
se o cotidiano se tornar apertado e sufocante, eu fujo
rapidinho. mas volto na segunda-feira antes de bater o cartão na empresa. e
antes da primeira aula do dia começar. você me tem na mão hoje. se me pedir em casamento é
provável que eu aceite. e se eu conservo esse amor pirata em mim é porque continuo
a mesma de três anos atrás.
tem alguma coisa por aqui que preciso construir pra
continuar o meu caminho. e depois disso, talvez eu parta. pode ser que daqui a
uns meses, talvez anos, um surto de amnésia me force a esquecer seu nome, ou o
ônibus que eu pego pra chegar na sua casa. e daí então, eu traço outro caminho.